jul 13 2015

Planos estratégicos se tornaram peças de ficção

Published by under BPM

Planos estratégicos se tornaram peças de ficção

A Kodak desenvolveu a câmera digital em 1975, mas o produto foi deixado de lado pela ameaça que representava ao lucrativo negócio de filmes fotográficos do qual era líder. No auge de sua história, a empresa empregava mais de 140.000 colaboradores e valia USD 28 bilhões e sua derrocada foi causada por uma tecnologia desenvolvida em suas próprias instalações pelo engenheiro Steven Sasson. Sasson criou uma câmera digital de 0,01 megapixel que pesava 3,6 kg (do tamanho de uma torradeira) e mostrou aos executivos da Kodak que recusaram a ideia por sua baixa capacidade de resolução. Preferiram se concentrar na fotografia de filme de alta resolução. Sua entrada no mercado de fotografia digital tardou e a companhia não previu a velocidade que as câmeras digitais se tornariam commodities em todo o mundo ao serem incorporadas em celulares e smartphones. A empresa ingressou em seguida no mercado de impressoras domésticas para fotografia, mas desistiu, ofereceu filmes para equipamentos de diagnóstico médico, artes gráficas e microfilmes. Vendeu patentes, demitiu e entrou em concordata Esteve sempre em busca de uma fórmula mágica para manter-se viva – quando já é tarde demais, a complacência cede lugar à busca de caminhos que ofereçam alguma esperança. Como não aproveitou a liderança que poderia adquirir com tecnologias digitais nem se livrou da tecnologia de filmes, ficou presa no meio do caminho e em constante xeque. As pessoas estão fotografando mais do que nunca, mas a Kodak não entendeu o objetivo maior que está por trás de cada foto tomada: registrar e compartilhar momentos. Quanto mais fácil, cômodo, barato e eficaz for registrar e compartilhar, melhor será. Deixou de ser uma empresa de fotografia para se tornar uma empresa de produtos químicos (filmes, sua maior fonte de receitas) perdendo foco no que estava além do resultado imediato.

Organizações com pensamento linear e construídas para estabilidade buscam conduzir transformações quando já é tarde demais, pois passam a maior parte do tempo em:

  • Foco em resultado trimestral e entendimento que o futuro será uma extensão do presente
  • Negação de novas realidades e tendências inexoráveis
  • Mentalidade de negócio bem-sucedido e que não há motivo para preocupações
  • Medição de desempenho focada em favorecer o status quo em vez de revelar o estado real dos fatos
  • Gestores muito ocupados reagindo a pendências e problemas do dia a dia sem tempo para avaliar para onde o mundo caminha
  • Colaboradores imersos em uma “bolha” de proteção
  • Falta de urgência impedindo o progresso e criação de uma situação coletiva de não ação frente às transformações necessárias

Investir em quebra de paradigma pode ir de encontro com o próprio negócio, mas muitas organizações não percebem que é necessária uma autorruptura antes que outros a provoquem. O exemplo da Kodak mostra que quando uma organização resiste a uma transformação inevitável, o cronômetro inicia a contagem regressiva para o ocaso confirmando o provérbio chinês de que há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Contudo, oportunidades nunca são perdidas, alguém vai aproveitar o que o outro perdeu. Quando Instagram foi vendida para o Facebook valia USD 1 bilhão e empregava 13 pessoas. Ignorar tendências é como nadar contra a correnteza. “Você não viu nada ainda”, diz John Chambers em palestra no International CES 2014 ao citar que a Internet das Coisas terá nos próximos cinco a dez anos mais impacto do que a Internet já teve até hoje. Não são somente modelos tradicionais de negócio que estão sendo superados por novos modelos de negócio (e.g. EasyTaxi substituindo centrais de taxi), mas novos modelos de negócio estão sendo superados por modelos mais novos ainda (e.g. Uber substituindo taxi e, por consequência, EasyTaxi; e mais adiante carros autônomos substituindo Uber). Segmentos tradicionais de negócio tentarão deter avanços e até poderão conseguir vitórias temporárias. Mas será inútil. Não se pode deter o futuro, é melhor ir ao encontro dele.

A menos que seja para construir uma usina atômica, planos estratégicos para cinco ou dez anos perderam sentido e se converteram em peças de ficção. Não significa o fim do pensamento estratégico ou da estratégia, mas de planos criados com pensamento linear para estabelecer itens de ação de longo prazo em um mundo que se reinventa diariamente. Em tempos de mudança exponencial com fator de dobra a cada ano, daqui a cinco anos não serão cinco passos para frente, mas 32 (2x2x2x2x2 em vez de 1+1+1+1+1). Em 10 anos não serão dez passos, mas 1024. Em 30 anos, serão 1.073.741.824.

© José Davi Furlan

13/07/2015

No responses yet

jul 09 2015

Viés da normalidade

Published by under BPM

Viés da normalidade

Em geral, as organizações foram construídas com o modelo mental da estabilidade e a menos que o segmento de negócio em que operam seja estável por natureza (e a cada dia existe menos disso), seu futuro está ameaçado. A falta de urgência em iniciativas de mudança decorrente do viés de normalidade (normalcy bias) impede o progresso e cria uma situação de não reação a crises iminentes. O viés de normalidade leva pessoas inteligentes e esclarecidas a subestimar a possibilidade de um desastre e suas consequências – é uma tendência do comportamento humano acreditar que algo que nunca aconteceu jamais acontecerá. Também faz com que as pessoas sejam incapazes de lidar com o desastre quando ocorre. Durante o furacão Katrina mesmo sabendo que o sistema de barragens não resistiria às águas, milhares de pessoas permaneceram em casa em rota das ondas do mar. Como nunca haviam visto situação assim tão ruim, muitas simplesmente não acreditaram que poderia acontecer. Resultado: dois mil mortos.

Construir organizações estáveis para operar em ambientes dinâmicos é receita certa para o fracasso. Em 2000 a Blockbuster declinou a compra da Netflix por USD 50 milhões e em 2004 a companhia atingiu seu pico com 60 mil colaboradores e mais de nove mil lojas. Tudo parecia estar indo muito bem. Em vez de a Blockbuster ter lanchado a Netflix no almoço na ocasião, a empresa permaneceu presa a uma estratégia em obsolescência acelerada e fracassou na tentativa de compreender as mudanças que a própria Netflix e outros estavam rapidamente explorando. Em 2010, a Blockbuster pediu concordata e em 2014 fechou suas últimas lojas, passando a concorrer quase sem chance com a Netflix pela Blockbuster on Demand.

John Kotter relaciona as fontes de complacência que levam a reduzir o senso de urgência frente a uma situação que requer ação encorajando o comportamento autocontemplativo. Algumas dessas fontes estão relacionadas a medições de desempenho e apresentam correspondência direta com os pecados capitais de medição de Michael Hammer:

Fontes de complacência de acordo com John Kotter

Primeiramente, não haver uma crise visível, nada que pareça ameaçar a posição da organização, nenhuma notícia ruim nas manchetes. Em segundo, perder a humildade ostentando instalações luxuosas ou comportamento extravagante que passem a mensagem subliminar de organização vencedora e que não há motivo para preocupação. Em terceiro, utilizar medições com o propósito único de fazer a organização e especialmente os gestores se sentirem competentes. Em quarto, áreas funcionais ditando métricas de desempenho de modo que apenas o próprio gestor possa controlar (desempenho intrafuncional se sobrepondo ao desempenho interfuncional). Em quinto, medir apenas uma pequena parte daquilo que realmente importa, tornando mais simples o alcance de objetivos funcionais. Em sexto, pessoas receberem feedbacks de desempenho de sistemas de medição não confiáveis. Em sétimo, colaboradores serem rotulados de inconvenientes quando buscam feedbacks externos aos sistemas de medição implementados. Em oitavo, a complacência ser apoiada pela tendência humana de negar o que não se quer ouvir (a vida é mais agradável sem problemas e é fácil enganar a si mesmo, o homem geralmente acredita no que deseja e só vê aquilo que está preparado para ver). Em nono, aqueles que ainda possam ter alguma preocupação com o futuro da organização receberem confirmação da liderança que os negócios vão bem.

© José Davi Furlan

09/07/2015

No responses yet

jul 07 2015

A Engenharia de Software com BPMS Par. 4

Parte 4 Mudanças culturais e tecnológicas necessárias para adoção de BPMS

 

Embora um desenho de processo possa ser feito usando ferramentas simples ou até papel, não será tão abrangente quanto poderia ser, pois é difícil manter a consistência de dados coletados em uma transformação quando alterações ocorrem o tempo todo. Sem automação é difícil simular uma operação e controlar suas iterações. O negócio simplesmente muda muito rápido para que qualquer desenvolvimento tradicional de sistemas ou projeto de melhoria de sistemas possa acompanhar. O principal motivo para usar BPMS é a capacidade de gerar rapidamente aplicações para aprimorar tanto o modo que a operação é controlada e monitorada, quanto fornecer automação de tarefas. Isso reduz a carga sobre a área de Tecnologia da Informação e habilita mudanças rápidas por meio de desenhos e testes iterativos dos processos.

O desenho do processo de negócio da organização irá executar dentro do BPMS, portanto utilizar um BPMS em um esforço de transformação é um compromisso estratégico com a ferramenta e com as mudanças que ela suporta. A transformação implica uma mudança ampla e qualquer tecnologia usada afetará parte significativa das operações de negócio e da infraestrutura de tecnologia da informação. Um BPMS oferece vantagens em comparação a tecnologias tradicionais e é um divisor de águas na geração de aplicações. Seja o desenho simplesmente incrementado com resultados provenientes do monitoramento de desempenho ou iterado utilizando simulação, o fato é que com um BPMS dando suporte à nova operação é possível promover mudanças mais rapidamente com menor risco e custo. Contudo, a área de Tecnologia da Informação deverá construir planos, padrões, métodos para a utilização do BPMS para que estes sejam alinhado com as mudanças culturais e organizacionais necessárias. É necessário que a organização tenha a cultura BPM disseminada para a sua adoção em plenitude. Caso ela não tem a mudança cultural deverá ser previamente iniciada.

A preocupação com a maneira como as pessoas vão lidar com o nível de mudança nesta transformação deve ser foco de um plano de gerenciamento de mudança que deve abranger toda a organização. Organizações são sistemas sociais complexos que sem o esforço, a contribuição e dedicação de sua força de trabalho não podem sobreviver. O conhecimento, a habilidade e a criatividade das pessoas representam um alto valor para a organização e levam tempo para serem adquiridos, desenvolvidos e estarem disponíveis. Quando as pessoas saem da organização, o conhecimento da história, compreensão de regras, familiaridade com infraestrutura e conhecimento para lidar com os constantes problemas são levados junto com elas. Portanto, é essencial entender os tipos de conhecimento que as pessoas possuem e que não podem ser encontrados em outros lugares na organização. O fato é que, em muitos casos, a única fonte confiável de conhecimento são as pessoas que fazem o trabalho.

Pessoas odeiam e amam mudanças. Odeiam porque as obrigam a aprender, amam porque as permitem aprender. O ponto central da questão está na crença das pessoas. Significa que as pessoas primeiramente têm de mudar suas crenças para destrancar a porta e avançar para o futuro. E não se muda de crença instantaneamente, principalmente quando se manteve apoiado nelas ao longo de toda uma vida. Quando crenças são mudadas, cria-se um novo conjunto de valores, que levará a novas atitudes, permitindo a incorporação de novas habilidades e, finalmente, a formação de um novo arcabouço de conhecimentos.

O sucesso da implantação e ferramental BPMS em uma organização está diretamente relacionado com a capacidade cultural da organização de conduzir iniciativas de transformação de processos. Vamos exemplificar em um cenário. Uma organização conduziu um esforço de transformação de processos. O pessoal da equipe de transformação foi treinado e os gestores se comprometeram com o esforço. O esforço atingiu os objetivos e excedeu às expectativas. Os membros da equipe de transformação foram promovidos e passaram a gerenciar ou assessorar a gerência nas áreas transformadas. As coisas foram bem por vários anos. Melhorias foram identificadas e incorporadas às operações. Contudo, à medida que os membros originais da equipe de transformação receberam trabalhos distintos ou deixaram a organização, o compromisso com a melhoria contínua caiu mais e mais. Finalmente, à marca de alguns anos, as operações de negócio estavam operando em um nível bem abaixo do esperado e a organização estava novamente em apuros.

As transformações e melhorias contínuas dos processos devem fazer parte da cultura organizacional para que as ferramentas BPMS sejam utilizadas em sua plenitude. Ela representa uma mudança de paradigma para todos os colaboradores da organização incluindo as áreas de tecnologia da informação que devem-se preparar antes definido e redesenhado seus padrões e métodos para suportar o ferramental BPMS. Isto se torna essencial ser feito previamente pois BPMS é uma ferramenta ou conjunto de ferramentas, geralmente com custos elevados, que necessitam de cultura organizacional estabelecida para a sua utilização, caso contrário, pode conseguir somente alguns benefícios a curto prazo e perda do investimento a longo prazo.

Os padrões e métodos que a organização deve adotar não são necessariamente uma mudança radical na forma de se conceber os sistemas de informação da organização. Tanto a área responsável pela TI, quando o Escritório de Processos ou equivalente na instituição devem adaptar suas formas de trabalhar para a adoção de um BPMS. Um Escritório de Processos que antes só desenhava processos com a finalidade de documentar o negócio da instituição, deverá se aprofundar nas suas diagramações para a criação de mapas e modelos de processos com vistas a automação dos mesmos. Se as fronteiras entre a Equipe de Negócios e TI não forem definidas previamente, diversos problemas para entender onde uma começa e a outra acaba ocorrerão.

A equipe responsável pelo Escritório de Processos deve planejar a profundidade do mapeamento juntamente com a área de TI. Um canal aberto entre estas duas áreas deve fornecer informações de feedback constantes tais como: informações que são necessárias ao usuário que estão no processo e quais estão faltando; Se algum campo do formulário está faltando na descrição das atividades; Todas as atividades que o usuário deve executar no sistema foram identificadas no processo; Se foram identificadas todas as ações automáticas que o sistema deve realizar; etc.

Note que a descrição para automação de um processo é muito mais detalhada e despende um esforço maior da equipe do Escritório de Processo para o levantamento das informações. Por esta razão, é aconselhável o planejamento de que processos vão ou não ser automatizados e para que público o processo servirá, para definir a melhor forma de diagramação e descrição do processo. Na maioria das vezes, somente alguns os processos vão para automação e devem ter este nível de detalhamento.

Diferenca-descricao

Figura 5 Diferença da descrição de atividades para negócio e para automação

Uma outra abordagem que pode ser definida, dentre as várias possíveis, entre a equipe do Escritório de Processos e a TI da organização, é o acompanhamento do um analista de requisitos e fazes específicas do mapeamento dos processos. Esta abordagem pode ser útil para desonera o Analista de Processos para que o mesmo possa trabalhar de forma mais focada na transformação do processo e sua implantação sem se preocupar com o detalhamento do processo para automação. Nesta abordagem, o analista de requisito participa das reuniões junto com o analista de processo. e já levanta todas as informações necessárias para a automação do processo. Esta forma de trabalho é especialmente recomendada quando a automação dos processos se dará por meio do desenvolvimento tradicional utilizando processos de software comumente adotados no mercado. Para a automação utilizando ferramentas BPMS, esta abordagem, pode gerar retrabalho, uma vez que os processos diagramados terão um desenho mais focado para as áreas de negócio da organização e posteriormente deverão ser refinados e redesenhados para automação contendo mais informações e detalhamentos.

Independentemente do tipo de abordagem adotada, o importante é que fique clara quais são as responsabilidades de entrega do Escritório de Processos e da área de TI da organização. A área de TI da organização deverá planejar, construir ou adaptar os processos de software tradicionalmente adotados para uma visão mista com o Escritório de Processos da organização. O Escritório de Processos deverá atualizar sua metodologia e forma de diagramação e descrição dos processos para auxiliar a área de TI. Um modo para realizar a transição de forma mais clara para a área de TI seria fazer uma comparação com as fases do desenvolvimento tradicional com possíveis fazes para o desenvolvimento com uma ferramenta BPMS.

Desenvolvimento tradicional x BPMSFigura 6 desenvolvimento tradicional e com o BPMS

São inúmeras as formas, mas é extremamente importante planejar, mapear os processos e a interação entre o Escritório de Processos e a TI antes da adoção de ferramentas BPMS pela organização. Nos próximos artigos, para exemplificar uma das possíveis formas de integras as duas árias e automatizar com ferramentas BPMS, vamos mostrar uma automação de processos enfatizando as informações devem ser levantadas pelo Analista de Negócio e o papel da TI.

Referências

ABPMP – Association of Business Process Professionals. (2013). BPM CBOK Guia para o Gerenciamento de Processos de Negócio Corpo comum de Conhecimento . Brasil: © 2013 Association of Business Process Management Professionals.

Junior, K. O., & Aresta, P. A. (2015). Como SOA pode influenciar em iniciativas de BPM. Como SOA pode influenciar em iniciativas de BPM. Brasília, Brasíl.

Kniberg, H. (2007). Scrum e XP direto das Trincheiras. Estados Unidos: C4Media Inc.

Neponuceno, B. G. (12 de Fevereiro de 2014). Ferramentas para Escritório de Processos – Business Process Analysis – BPA. Fonte: Gerenciamento de Processos de Negócio, Business Process Management – BPM: http://bpm.bgnweb.com.br/2014/02/12/ferramentas-para-escritorio-de-processos-business-process-analysis-bpa/

Rezende, D. A. (2005). Engenharia de Software e sistemas de informação (3ª edição ed.). Rio de Janeiro: Brasport.

Sganderla, K. (09 de Julho de 2014). IProcess soluções em tecnologia. Fonte: O que BPM tem a ver com requisitos de software? Tudo!: http://blog.iprocess.com.br/2014/07/o-que-bpm-tem-a-ver-com-requisitos-de-software-tudo/

The Project Cartoon Beta. (27 de 03 de 2015). How Projects Really Work (Brazilian Portuguese Version). Fonte: The Project Cartoon .com Beta: http://projectcartoon.com/cartoon/611

Wikipédia, a enciclopédia livre. (27 de Março de 2015). IBM Rational Unified Process. Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre: http://pt.wikipedia.org/wiki/IBM_Rational_Unified_Process

 


Assine nossa Newsletter para receber por e-avisos sobre novas publicações na página e aguarde os outros artigo e compartilhe nas redes sociais para divulgação da página.

No responses yet

jul 03 2015

O maior problema não é o maior problema

Published by under BPM

O maior problema não é o maior problema

Mudança é difícil porque as pessoas se cansam e o que pode parecer resistência muitas vezes é exaustão. Psicólogos descobriram que o autocontrole exaure o estado emocional assim como os músculos se exaurem quando submetidos a esforços contínuos. As pessoas vivenciam situações de autocontrole a todo o momento – gerenciando a impressão que produzem em outras pessoas, lidando com temores, controlando gastos, tentando se concentrar em algo. Soma-se a isso a exaustão resultante do trabalho do dia a dia, da vida cotidiana, de processar um volume crescente informação e de fazer escolhas entre um número crescente de opções. Falta de clareza sobre o que se pretende fazer e onde se quer chegar é outro fator que gera resistência, assim como traumas vividos em situações anteriores de mudança influenciando a percepção sobre a mudança atual. Não adianta simplesmente dizer às pessoas “precisamos reinventar o negócio”, é necessário mostrar o que fazer, motivar e moldar o caminho. Se o escopo da mudança em andamento for maior do que do passado, as expectativas podem ficar ainda piores. Então, exaustão, falta de clareza e traumas são elementos-chave na composição da resistência à mudança. Muitas vezes, é necessário ocorrer uma crise para convencer as pessoas que elas estão de frente a uma catástrofe e não têm escolha, a não ser se mover.

Um problema difícil pode facilmente se tornar um enorme impedimento levando à procrastinação e paralisia. A melhor forma de endereçá-lo é reconhecer que ele não é o problema principal. Colocando-o de lado em vez de buscar sua solução permite à mente liberdade de ação para descobrir novas possibilidades. Eis alguns exemplos: toda vez que são discutidas soluções para o trânsito, acaba-se invariavelmente propondo alargamento de ruas, construção de pontes e túneis para comportar mais veículos. De tão focados em encontrar soluções, os técnicos esquecem que o problema principal não é mais ter por onde andar, mas o tamanho exagerado dos veículos. Qual é a necessidade de um automóvel com capacidade para transportar cinco passageiros se 75% a 100% do tempo transporta somente o motorista? Quando se diz que o problema é ter mais hospitais, por que não fazer com que menos pessoas precisem de um hospital? Quando se diz que é preciso limpar os rios, por que não deixar de poluí-los? Rios se limpam por conta própria. Se está difícil vender, por que não locar – montadoras locando carros em vez de vendê-los? Se está difícil manter um restaurante fixo, por que não torná-lo móvel –food trucks? Se idosos de um asilo estão apáticos, por que não instalar uma pré-escola que funcione no mesmo lugar? Ao mudar de perspectiva, expandem-se as possibilidades para que se veja aquilo que antes não era possível levando a novas ideias e soluções.

Business Transformation não se limita a melhorar eficiência, eliminar erros, fazer a mesma coisa um pouco melhor ou solucionar crises imediatas. É sobre como ter uma nova visão, repensar o negócio e redefinir o mercado. Em geral, os negócios tendem a evoluir para a perda de desempenho ao longo do tempo se nada importante for feito. Pequenas mudanças constantes com foco funcional têm conduzido as organizações à perda de eficácia. Como ponto de partida para iniciativas de transformação é necessário se colocar na posição de clientes, colaboradores, sociedade, meio ambiente e ecossistemas de negócio, e não somente na posição de gestores e acionistas, para entender a transformação sob novos pontos de vista. Sem isso, não se estará praticando transformação na intensidade requerida.

© José Davi Furlan

No responses yet

jul 01 2015

Razão e emoção na transformação

Razão e emoção na transformação

Com base no trabalho de Jonathan Haidt, os irmãos Dan e Chip Heath utilizam a narrativa do condutor, do elefante e do caminho para estabelecer uma estrutura de entendimento do processo de mudança. De acordo com os Heath, cada indivíduo possui um lado emocional, o elefante, e um lado racional, o condutor. Assim também vale para a organização como uma comunidade de pessoas. Para ser bem-sucedido na mudança, é preciso primeiramente direcionar o condutor, investigando e clonando aquilo que funciona, propondo ações que moldem comportamentos específicos e apontando o destino. Em seguida, motivar o elefante, fazendo as pessoas sentirem que são parte de algo maior, subdividindo o tamanho da mudança para que seja mais fácil de alcançar e cultivando um senso de propósito e entendimento do objetivo. Por fim, moldar o caminho, ajustando o ambiente, construindo hábitos e reunindo pessoas. Essa abordagem é consistente com a visão de Bertrand Russell em que o homem é racional na proporção que sua inteligência orienta e controla seus desejos.

Em um plano individual ou organizacional, algumas mudanças são abraçadas com entusiasmo enquanto outras repelidas. Somente conhecimento não é suficiente, exemplos disso são médicos que sofrem doenças em decorrência de seu estilo de vida e psicólogos com filhos desajustados. Para que a mudança ocorra, condutores necessitam mostrar para onde ir e como ir – o problema normalmente surge quando a razão discorda da emoção. Howard Gardner demonstrou por meio de pesquisa que somente se as emoções estiverem engajadas as pessoas serão capazes de efetivar mudanças reais. Embora a razão pareça liderar a emoção, tal como faz o condutor com o elefante, essa liderança é precária – o condutor é relativamente pequeno quando comparado ao elefante. Quando discordam sobre a direção a seguir, vence o mais forte. Quanto maior o número de escolhas possíveis e mais difíceis forem as mudanças, mais debilitada estará a relação.

A habilidade para mudança é baseada em prontidão e compreender pela razão não é o mesmo que estar preparado emocionalmente. As pessoas concordam racionalmente que devem prover melhores experiências para clientes, evitar desperdícios, não produzir com defeitos e não impactar o meio ambiente, mas não estão emocionalmente preparadas para fazer isso todos os dias. Condutores são ávidos por contemplar análise de problemas e identificar o que não funciona e dão menos importância aos elementos que funcionam e que poderiam ser replicados. Os aspectos negativos tendem a receber mais atenção que os positivos, pois é da natureza humana focar o que não funciona em vez de propagar o que funciona. O ruim frequentemente recebe análises detalhadas e pode levar à paralisia por análise, mas o que bom é tratado com superficialidade. Assim, o condutor tem de estar comprometido em suportar frustrações de curto prazo para obter compensações de médio e longo prazo. Quando esforços de mudanças são malsucedidos, normalmente é por culpa do elefante, que prefere obter compensações de curto prazo e conviver com frustrações de médio e longo prazo.

Transformação é resultado do acúmulo e intensidade de mudanças que se consegue empreender e, para serem bem-sucedidas, essas mudanças requerem que razão e emoção estejam em sintonia. Razão provendo direção e emoção provendo energia. Se a liderança está convencida da mudança, mas a equipe não, então haverá condução, mas sem energia. Se a equipe está convencida da mudança, mas a liderança não, então haverá energia, mas sem direção.

© José Davi Furlan

No responses yet

« Prev - Next »