dez 15 2015
set 04 2015
Se existe está obsoleto
É preciso ser capaz de mudar rápido o suficiente para acompanhar o mercado e os avanços tecnológicos e se ajustar a uma variedade de direcionadores e eventos de relevância em curtos espaços de tempo. Em algum ponto, esses direcionadores poderão ser tão significativos que outra transformação radical será necessária. Para manter o ritmo, terá de adotar uma postura que promova transformação permanente, a capacidade de mudar rapidamente é mais importante que qualquer resultado único ou mudança pontual. A razão é que os resultados obtidos serão válidos momentaneamente e o negócio precisará avançar para o próximo patamar tão rápida e controladamente quanto possível. À medida que o negócio muda, também mudam suas necessidades e cada próxima transformação será diferente da anterior. O melhor momento para mudar é quando se está bem, porque estar bem hoje não significa estar bem amanhã, o conforto de um sucesso temporário representa um grande risco. Quem esperou a situação ficar desconfortável, esperou tempo demais.
Em paralelo à melhoria da operação transformada a organização deve se preparar para novo salto de transformação radical. Quando a taxa de mudança fora da empresa excede a taxa de mudança interna, o fim está próximo.
Business Transformation é algo em aberto, o trabalho não termina na primeira iniciativa que é apenas um ponto de partida da evolução em um palco de transformação constante. Requer que a organização visualize constantemente a operação como algo em mudança – o que antes era visto como um conceito assustador passa a ser encarado como algo comum. A melhor forma de assegurar que a organização será capaz de mudar continuamente é desenhá-la para incorporar mudança como algo normal e parte da cultura.
Na cultura de Business Transformation, mudança é parte do dia a dia, as pessoas são incentivadas à experimentação e ao aprendizado. É diferente de possuir uma capacidade de gerenciamento de mudança cujo pressuposto estabelece que pessoas irão resistir e precisarão ser motivadas para a mudança.
Daniel Burrus classifica mudança em cíclica e progressiva. A cíclica é a que ocorre com alto grau de certeza: depois do inverno vem a primavera e após o dia vem a noite. A progressiva, por sua vez, não repete o padrão e segue em direção ao futuro: os rádios e TV usam transistores e não voltarão a usar válvulas, as pessoas ficam mais velhas e não voltarão a ser jovens. É na mudança progressiva que estão as maiores oportunidades, pois criam circunstâncias únicas para tornar realidade um futuro ainda invisível para a maioria. Intuir o futuro, de acordo com Burrus, é um exercício de avaliar tendências. Essas tendências podem ser firmes (baseadas em fatos previsíveis, tangíveis e mensuráveis) ou possíveis (baseadas em estatísticas e aparente tangibilidade). Sabendo identificar as tendências firmes permite ver o futuro, sabendo identificar as tendências possíveis permite moldar o futuro.
Figura – Do foco em mudança cíclica para o foco em mudança progressiva
A habilidade de mudar é uma vantagem competitiva, a sobrevivência de longo prazo não está na busca de uma estabilidade duradoura, mas na compreensão de que o atendimento às necessidades do estado atual conviverá constantemente com o pensamento sobre as necessidades do estado futuro – não existe a sensação de segurança de um futuro tranquilo dissociado de uma preocupação presente permanente. Estratégias organizacionais, sistemas de recompensa, processos de comunicação e práticas de gestão de pessoas devem estar alinhados com mudança e encorajar as pessoas a promoverem Business Transformation de forma contínua.
© José Davi Furlan, 27/08/2015
set 03 2015
Organização base zero
Organização base zero é operar com máxima eficácia e eficiência concentrando-se nas partes do negócio em que o valor é gerado e ser implacável contra o desperdício e a capacidade ociosa. Com o avanço dos negócios digitais e na sequência de crises do sistema econômico, as organizações estão descobrindo novas formas de operar que desafiam pressupostos e quebram velhas regras. Passaram a conduzir o negócio sob novos paradigmas de forma mais enxuta e inteligente aproveitando tecnologias disruptivas e colaboração. São organizações grandes apenas o suficiente e altamente focadas na entrega de valor, algumas surgidas como startups há pouco tempo e outras já operando de longa data, mas sempre compartilhando a mesma mentalidade e crença de que crescimento não é sinônimo do número de colaboradores nem da quantidade de ativos que possuem. Essas são as organizações base zero.
Um exemplo de empresa grande base zero é a Amazon que percebeu desde cedo que o valor de um negócio de varejo não estava em lojas, mas na capacidade de gerenciar inventário e logística. Como resultado, a receita da Amazon por colaborador atingiu USD 855 mil em 2014 em comparação com empresas que operam com lojas físicas, como é o caso da Gap, que alcançou USD 108 mil. Tornar-se uma empresa base zero não é sinônimo de cortar pessoal, mas alocar pessoal próprio e externo de forma adequada, utilizar tecnologia para automatizar e gerenciar, reduzir ativo fixo e encorajar criatividade e inovação. David Cushman em The 10 Principles of Open Business: Building Success in Today’s Open Economy desafia a estabelecer um colaborador em tempo integral para cada nove outros externos que contribuam de forma parcial. Há uma outra razão para que recursos externos devam ser abraçados. Estatisticamente, quanto maior a organização mais mediana se torna. Para contrabalançar esse efeito colateral do crescimento, um novo pensamento de agregar contribuição externa por meio de crowdsourcing, outsourcing, free-lancers e comunidades de interesse se torna indispensável.
Base zero não é sobre downsizing, mas ser mais enxuto, mais inteligente, mais rápido, mais focado em valor, mais eficiente, mais eficaz, mais barato. Não menor.
Um item importante que não faz parte do receituário da organização base zero é manter escritórios dispendiosos. Na maioria dos casos, escritórios são um fardo e não um ativo. No mundo analógico, tamanho importava e o sucesso dos negócios era medido pelo número de funcionários e instalações físicas. Se o número de funcionários crescia e mais instalações eram incorporadas, então significava que o negócio ia bem. Era a lógica da sala de reuniões. Hoje, sucesso não é mais medido por número de funcionários e escritórios, mas pela rentabilidade que é capaz de gerar. Espaços compartilhados de trabalho, mobile office, reuniões caminhando, locação de curta duração e outras formas de desprendimento de locais e horários de trabalho são a nova norma. Na era digital da computação em nuvem e comunicação ubíqua, a localização física é em grande parte irrelevante. As regras estabelecidas há décadas estão aí para serem quebradas. Burocracia e camadas gerenciais distanciam a empresa de seus clientes, locais e horários fixos tolhem a liberdade e o trabalho rotineiro desestimula inovação e afasta talentos. A cultura do “nós sempre fizemos assim” está sofrendo erosão pela tecnologia e por novos comportamentos sociais.
É preciso ter bem claro quem são os que geram valor na empresa, quem suporta os que geram valor e quem é apenas peso morto. Não é somente gerar rentabilidade, mas gerar valor para o cliente. Todos devem gerar valor e os que forem apenas passageiros devem desembarcar na próxima estação. Em vez de colaboradores próprios trabalhando em tempo integral, a contribuição externa por meio de crowdsourcing, outsourcing, free-lancers e comunidades de interesse permite ajustes para mais ou para menos para refletir a dinâmica do negócio. Mais importante do que internalizar recursos é avaliar o que pode ser externalizado. Também é necessário enxugar tudo que é possível, começando por não basear o orçamento em anos anteriores, mas recomeçando a partir do zero para economizar recursos (orçamento base zero). Elaborar orçamento com base no ano anterior e somar ou subtrair um percentual é uma maneira preguiçosa de reproduzir um orçamento que pode estar jogando muito dinheiro fora. Também faz parte desse pensamento reduzir estoques físicos e resíduos para zero, posicionar a sustentabilidade no centro das operações, trabalhar de forma mais inteligente (em vez de trabalhar mais duro) e banir tudo que não é importante começando por reuniões. Estudo da Bain & Co mostra que, em média, a força de trabalho de uma organização gasta cerca de 15% de seu tempo coletivo sentada em reuniões. Um bom aproveitamento do tempo do pessoal é chave para um negócio base zero.
© José Davi Furlan, 31/08/2015
ago 24 2015
Avançando sem retrocessos na transformação

Cultura não é algo que se altere com facilidade, somente ocorre uma mudança cultural quando as pessoas mudam seus comportamentos por um período de tempo suficiente que não permita retorno ao modo anterior (Chip Conley diz que “cultura é o que acontece quando o chefe não está por perto”). O compromisso com uma nova operação precisa transcender qualquer indivíduo ou irá lentamente se perder enquanto novas pessoas substituem aquelas que entendiam o significado e o compromisso necessário.
A operação transformada poderá ser uma mistura de trabalho bem diferente do que era anteriormente. Embora os requisitos e fatores-chave de sucesso de Business Transformation estabeleçam as condições para a mudança, eles não fornecem a capacidade para verdadeiramente mudar. Se não puderam contar com abordagens e tecnologias para sustentar o novo estado, a nova operação pode se enfraquecer e muito do benefício será perdido.
Após a organização ter sido “descongelada” e transformada, o momento passa a ser de “recongelá-la” institucionalizando a mudança e retornando ao período de estabilidade por um período de tempo até que uma nova transformação seja necessária. Descongelamento e recongelamento implica que a organização busca estabilidade entre os períodos de mudança, mas é importante ter em mente que os períodos de estabilidade estão se reduzindo a cada dia. Novos comportamentos levam tempo para se firmar e a institucionalização de uma operação transformado requer acompanhamento para que não haja regressão ao estado anterior. Organizações que estão nesse estágio da transformação costumam cometer dois erros descritos por Kotter:
- Declarar vitórias muito cedo. Após algum tempo de trabalho duro, as pessoas tendem a declarar vitória na transformação com os primeiros resultados. Ainda que celebrar resultados seja importante, supor que o trabalho está concluído é geralmente um equívoco. Até que todas as etapas de incorporação da nova cultura sejam completadas e não haja retorno para o antigo estado, as novas práticas organizacionais são frágeis e sujeitas à regressão
- Negligenciar que as transformações estejam firmemente ancoradas na cultura organizacional. Enquanto novos comportamentos não estejam institucionalizados nas normas sociais e valores compartilhados, estarão sujeitos à degradação e pressão. Quando há afrouxamento antes que o trabalho esteja concluído, perde-se o ímpeto e abre caminho para regressão. Ainda é frágil um ambiente recém-transformado que não institucionalizou as novas práticas em sua cultura. Ao dar início a uma regressão torna-se difícil adquirir aceleração novamente, as pessoas adquirem um sentimento que já fizeram sua parte e que agora é a vez dos demais fazerem a sua
No decorrer da iniciativa, existe uma tendência em algum momento de sentir como se o trabalho estivesse concluído e que já é possível relaxar. É análogo ao esforço de uma pessoa em perder peso e quando atinge a meta começa a se permitir indulgencias como forma de recompensa. Aos poucos vai incorporando os velhos hábitos até que o peso perdido é recuperado – como as mudanças são pequenas a cada dia, não nota a tendência de retorno ao estágio inicial até que a situação se torna ruim o suficiente para sentir que é preciso mudar novamente. Não é diferente nas organizações. Fazem progressos, sentem-se bem e, então, perdem o momento e têm novamente que se reenergizar. Mesmo líderes preparados e carismáticos falham em suas tentativas de mudança porque algumas organizações são tão resistentes à mudança que é virtualmente impossível mudar. Ninguém é obrigado a mudar, afinal ninguém é obrigado a sobreviver.
© José Davi Furlan, 24/08/2015
Redigida por
Jose Davi Furlan
ago 20 2015
Mantendo a relevância em tempos de mudança

Perguntado como fazia uma escultura, Michelangelo respondeu “simplesmente retiro do bloco de mármore tudo que não é necessário”. Mas quando se lida com pessoas retirá-las não é tão simples, redução de quadros é uma ação delicada e pode arruinar o moral se conduzida de maneira descuidada. Demissões são necessárias por várias razões como resultado de mudanças do negócio ou dificuldades no cenário econômico, contudo não deveriam ser parte essencial da visão de Business Transformation. A razão é que, embora exista a necessidade de reduzir pessoal não mais necessário, muito conhecimento, habilidades e competências podem ser perdidos como decorrência. Quando demissões ocorrem, gera também um efeito negativo sobre os que permanecem que pode se estender por várias semanas ou meses. Demitir é um dos aspectos mais desagradáveis aos gestores incumbidos dessa tarefa, mas às vezes é absolutamente necessário para a prosperidade do negócio. Se a decisão de demissão ocorre por transformações que não mais requerem o perfil, a função ou porque o profissional não desempenha bem suas funções, o importante é preservar a dignidade do demitido e proteger a organização de consequências negativas que possam ocorrer.
Uma abordagem que pode evitar demissões prematuras é o shojinka do sistema de manufatura enxuta da Toyota. Shojinka representa uma condição de ajuste e flexibilidade para atender a demanda que pode ser aplicável deslocando colaboradores entre células de trabalho para aumentar a flexibilidade em relação às variações na demanda. Quando a demanda cresce, a produção é aumentada pelo acréscimo de pessoal e quando diminui o número de colaboradores na célula pode ser reduzido. As principais vantagens do shojinka é a flexibilidade, o que significa que os colaboradores são treinados na maior parte das atividades funcionais permitindo movimentação entre atividades diferentes à medida que a demanda altera. Não há desvantagens relevantes nessa abordagem, contudo, limita-se preponderantemente a movimentações intrafuncionais, pois é mais difícil movimentar colaboradores interfuncionalmente (pessoal de produção poderia se movimentar dentro das células de produção, mas haveria uma barreira natural de se movimentarem para distribuição ou finanças). Para implementarshojinka é necessário um investimento inicial em capacitação nos diversos aspectos de operação da área funcional, além de padronizar o trabalho e reduzir a necessidade de especialização.
Adicionalmente ao shojinka, há o conceito de nagara que representa a execução simultânea de operações secundárias (ou selecionadas) e a operação principal, utilizando tempos de folga existentes. A Toyota desenvolveu o sistema de rotação do trabalho que habilitava ao colaborador operar qualquer equipamento em sua área. Esse sistema compreende a rotação de supervisores, rotação de equipes e rotação de trabalho. Quando os colaboradores da área são capazes de operar quase todos os equipamentos (nagara), a rotação de trabalho passa a ser realizada toda semana, todos os dias ou, em casos especiais, várias vezes ao dia. Apesar dos custos de capacitar o pessoal para vários papéis, a força de trabalho se torna exponencialmente mais flexível e ágil para movimentações.
Quando uma organização demite colaboradores passa uma mensagem subliminar aos que ainda permanecem. Se a demissão for simplesmente um despejo, o moral dos que ficam será fortemente impactado. Mas se a demissão for um processo cuidadoso que inclua aconselhamento de carreira, reeducação e suporte à recolocação, o efeito será o contrário. Coisas ruins na vida acontecem e nem sempre é possível evitar. As pessoas entendem isso. Sabendo que haverá ajuda em momentos difíceis é fundamental na criação de um senso de segurança quanto ao futuro reduzindo traumas quando novas transformações forem anunciadas.
Profissionais desempregados normalmente declaram estar “em busca de novas oportunidades”. Ficam na esperança que algo venha a elas de forma pronta e não se dão conta que no século 21 as oportunidades estão aí para serem criadas, não encontradas.
Iniciativas de Business Transformation também levam à perda de utilidade de infraestrutura instalada. Prédios, equipamentos, sistemas, moveis e outros bens podem simplesmente não fazer mais sentido na operação transformada e precisarão ser desincorporados. Nesse caso, o processo de desincorporação é mais simples e movido por um racional econômico-financeiro.
© José Davi Furlan, 20/08/2015