nov 10 2017

BPM Ágil – Isso NÃO Existe

 

 

 

Autor e publicador:

Gart Capote, CBPP

Gart Capote, CBPP

Business Experience Designer

Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/bpm-%C3%A1gil-isso-n%C3%A3o-existe-gart-capote-cbpp/

 

Calma! Vou explicar.

Antes de começar a explicação, já que nem todos os leitores me conhecem, permita-me uma rápida apresentação.

Sou profissional de BPM desde 2003. Iniciei na profissão trabalhando em parceria com alemães para a realização de projetos históricos no Brasil e em outros projetos internacionais com americanos, ingleses, sul-africanos, gregos e canadenses. Devido a minha origem tecnológica (desenvolvimento de software), automatizo processos com BPMS desde os primórdios do surgimento do conceito e da tecnologia, utilizando as mais variadas e esdrúxulas notações que já existiram até o mais atual BPMN 2.0.

Além disso, já escrevi e publiquei 4 livros sobre BPM, palestrei em algumas centenas de eventos e cidades pelo mundo e colaborei com a atualização e melhoria do BPM CBOK v2 e v3. Também sou o responsável pela chegada da ABPMP no Brasil, pois eu era membro do chapter de Tampa Bay na Florida em 2007, quando tive a ideia de fundar o chapter nacional e desenvolver o tema em nosso país. Sendo assim, idealizei, convidei profissionais da comunidade de gestão, fundei e presidi a ABPMP Brasil por 8 anos consecutivos. Tornamos o Brasil no maior chapter do mundo, com milhares de associados e centenas de profissionais certificados CBPP. Finalizando, tenho incontáveis horas de voo em consultoria de BPM, BPMN e BPMS e, principalmente, já capacitei mais de 3200 profissionais em métodos, técnicas, princípios e tecnologias para análise, modelagem, melhoria, transformação e automatização de processos. Ou seja. BPM é a minha vida há pelo menos 15 anos ininterruptos e sou completamente apaixonado e envolvido com o estudo, a prática, a evolução do tema e a sua aplicação consciente nas organizações pelo mundo.

Dito tudo isso, fique tranquilo, não vou oferecer meus serviços de consultoria ou qualquer coisa parecida. Apenas achei interessante você conhecer um pouco da minha trajetória profissional com BPM antes de você avaliar/criticar/apoiar o que vou dizer nesse artigo.

Quando digo que BPM Ágil NÃO existe, tenho 2 bons motivos. Vou apresentá-los aqui.

Primeiro – BPM é uma disciplina de Gestão

Qualquer pessoa que já tenha lido o BPM CBOK, ou qualquer um dos meus 4 livros, sabe muito bem disso. Desde Peter Fingar e Howard Smith que estamos trabalhando para desenvolver o tema Gestão POR Processos e aprimorar princípios, conceitos, métodos, tecnologias e técnicas que permitam – simplesmente – promover uma compreensão holística da dinâmica organizacional, buscando diminuir lacunas entre funções, tecnologias, trabalhos, orientação, execução, medições e estratégias.

Fazer com que essa visão interfuncional-integrada aconteça e, mais ainda, se torne um vetor de orientação da gestão organizacional, não é trabalho simples, fácil ou rápido. Afinal, toda essa mudança depende de um elemento muito mais lento que a nossa vontade de ver as coisas acontecendo. Esse elemento está inserindo em cada trincheira organizacional e é responsável por permitir ou não a mudança. Estou falando do ser humano. Quando falamos de BPM, estamos falando de mudança de cultura organizacional.

Se a cultura não permite, o gestor não entende e o executor não faz.

Nas muitas dezenas de projetos que participei e conheci, nas organizações que conseguiram implantar a gestão por processos, todas tinham um elemento em comum: investiam na mudança cultural antes, durante e depois da mudança operacional e gerencial.

Da alta administração até a operação, todos eram sensibilizados e apoiados para que as mudanças tivessem capacidade real de se tornar o novo “modus operandi” vigente.

BPM não é um esforço funcional, operacional, isolado e orientado para desenvolvimento de software, aplicações e digitalização de trabalhos. Fazer essas mudanças operacionais orientadas pela dor funcional é continuar fazendo a antiga melhoria de processos – processos funcionais.

BPM é sobre processos interfuncionais – organizacionais – ponta a ponta. Não existe BPM quando só uma área ou outra está envolvida nas ações. Processos de Negócio são processos interfuncionais e com impacto organizacional – inclusive na experiência dos clientes.

BPM é uma mudança completa e complexa no design organizacional.

BPM deve e pode alterar a cadeia de valor, a forma de medição, os indicadores, as funções, os riscos, os trabalhos, o uso da tecnologia, os comportamentos etc.

Sinceramente. Isso parece algo rápido/ágil de ser feito?

Segundo – Ciclo de Vida é parte do Método

Como disse no primeiro ponto, BPM é uma disciplina de gestão, não é método, tecnologia ou notação.

Quando alguém diz que faz ou vai fazer “BPM Ágil”, eu até entendo a intenção, mas não concordo com a forma e o uso. Vou explicar.

Podemos, rapidamente, sair da etapa de entendimento inicial de um problema em um processo (funcional) e projetar melhorias e transformações com uso de automatização em ferramentas adequadas (BPMS). Toda essa agilidade entre etapas/ações de um ciclo de vida, é característica herdada e aprimorada das abordagens mais modernas para projeto, desenvolvimento e entrega de software. Os ciclos iterativos, interativos, mais curtos e ágeis existem desde os primórdios do RUP (Rational Unified Process) e geraram muitos filhos desde 2000. Porém, novamente, e nesse caso, estamos falando de métodos ágeis para desenvolvimento de software, e não de capacitação de pessoas, design de organizações, mudança cultural, resistências, medos, leis, gestão etc.

O que pode e deve ser ágil é o ciclo de vida que orienta a realização dos projetos/trabalhos.

BPM não é ciclo de vida. Ciclo de vida está contido em métodos. BPM não é método.

Resumindo a ópera, vou explicar o motivo pelo qual não concordo com esse “esforço cíclico” de inserir palavras da moda para dar uma “revitalizada” nos temas com algum tempo de estrada.

Quando as pessoas falam em “BPM Ágil” estão, mesmo que sem querer, corrompendo os conceitos, os princípios e o próprio objetivo da disciplina. Isso acontece desde o início, lá em 2003. Por isso mesmo, me cansa bastante a vista e os ouvidos toda essa “modernização” exacerbada desse tão singelo acrônimo. BPM é BPM e pronto.

Já vi consultores e consultorias vendendo BPM como tecnologia de automatização e digitalização de trabalho – que é apenas uma pequena parte do todo. Já trataram de BPM como sinônimo de Qualidade Total e muitos outros desvios da ideia original.

Sendo assim, se você precisa vender a ideia deagilidade em projetos de melhoria de processos, diga exatamente isso. Não precisa inventar outro nome para continuar parecendo atual no mercado.

Seja direto e verdadeiro com seus colegas e clientes. Não enfeite o pavão – ele já é bonito como está. Sei que você não faz isso, mas eu ouvi dizer que, alguém que o meu primo conhece, tem uma tia, e ela falou que, o afilhado da nora que mora no interior de…

Projetos com abordagem ágil existem em entregas de melhorias funcionais.

Melhorias funcionais – apenas – não são o foco da disciplina de BPM.

Mudar uma organização como um todo – foco da disciplina de BPM – não é um projeto ágil, mas uma jornada de maturidade. Demanda envolvimento das lideranças, capacitação das pessoas, compartilhamento e atribuição de responsabilidades, visão coesa e comum, engajamento das pessoas e, principalmente, muita ousadia.

Isso leva tempoé saudável e prudente que seja assim.

Com BPM (a disciplina) estamos tratando, no final das contas, de mudar o entendimento individual e coletivo. Ágil isso? Ágil é ciclo de vida.

Minhas considerações finais.

No espectro de trabalho com BPM, as mudanças começam na cultura, nas concepções iniciais, nos próprios paradigmas – que são as certezas vigentes nas pessoas.

Quando falei de “Fuja do Fluxograma” incomodei muitos paradigmas e modelos mentais mais fixos. Tudo bem. Alguém precisa se expor e falar. O mesmo resultado pode acontecer com esse breve artigo. Ok. Estou preparado.

“Joguem-no aos Leões!” – diriam os romanos.

Hoje em dia, diriam: “Joguem-no aos Haters!”

Brincadeiras à parte, espero ter ajudado no seu entendimento. Não é uma questão de certo ou errado. Aqui não é um julgamento, apenas um compartilhamento de visão, entendimento e postura. Precisamos tratar com a seriedade necessária esse tema que é tão importante para as organizações de todo o mundo.

Não precisamos dar “Revamp” em BPM. Precisamos praticá-lo!

Grande abraço e espero que seu coração tenha se alegrado com esse artigo. 🙂

P.S. Se for comentar, comente construtivamente. Sem ofensas. Beleza?

Gart Capote, CBPP

Gart Capote, CBPP

Business Experience Designer

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