Se a natureza da transformação do negócio está relacionada a um conjunto de melhorias localizadas ou ao atendimento de um determinado objetivo, o escopo geralmente é reduzido e centrado em resultados pontuais – esse tipo de transformação de baixo impacto serve ao propósito de calibrar estratégias e estruturas para alcançar resultados de curto prazo. Mudanças de paradigma, por outro lado, promovem intervenções mais invasivas e rompem fundamentalmente com o estado atual – nesse tipo de transformação há uma reorientação estratégica e o desenvolvimento de novas capacidades e competências que exigem compromisso de longo prazo. Enquanto melhoria é incremental e constante, mudança de paradigma é provocada. Em muitas ocasiões será preciso olhar na direção oposta à que todos os outros estão olhando para ver o que ninguém pode ver, revelando oportunidades ocultas, recursos não detectados e possibilidades negligenciadas.

Warren Buffet diz que é preciso ser ambicioso naquilo que outros são medrosos e ser medroso naquilo que outros são ambiciosos. Quanto mais se olha, mais se vê, mas a questão é para onde olhar. A estrutura mental deve estar baseada no desapego às limitações e ao modo de vida atual buscando ver o invisível e realizar o impossível. Nem sempre o negócio poderá ser tratado como um todo ou uma nova capacidade ser plenamente implementada. Porém, quando a iniciativa de Business Transformation proporciona oportunidade de criar um novo modelo de negócio, pode-se prosseguir sem muitas preocupações limitantes, embora não esteja totalmente livre de restrições.

O cálculo foi inventado duas vezes, a teoria da seleção natural foi descoberta duas vezes e o telefone foi patenteado duas vezes. Há uma repetição de padrão em ideias simultâneas ao longo da história que evidenciam que algo diferente ocorre do que habitualmente é chamado de invenção. Invenção é uma ilusão derivada da visão de mundo centrada no ser humano – não existem invenções, existem descobertas. Quando um ambiente se altera para tornar possíveis novas descobertas, aumenta a probabilidade de que alguém com conhecimento e inteligência suficientes possa encontrá-las e isso explica por que a mesma invenção frequentemente ocorre em mais de um lugar ao mesmo tempo. Para impulsionar novas ideias e abordagens é necessário menos esforços heroicos e maior ênfase na criação de um ecossistema que maximize a “possibilidade adjacente”, isto é, coisas que podem ocorrer em um ambiente em função do patamar de conhecimento alcançado por pessoas inteligentes, com o equilíbrio correto de infraestrutura, execução e liberdade. Até mesmo a cor das paredes influencia as pessoas: a cor vermelha estimula atenção e precisão e a cor azul estimula criatividade. Pé-direito alto estimula a conexão entre assuntos aparentemente não relacionados. Como os seres humanos são sensoriais, os aspectos físicos da infraestrutura e o design do ambiente reforçam o propósito e impulsionam a criatividade e produtividade das equipes.

Em qualquer repensar fundamental de um negócio, muitos podem reagir com medo buscando proteger o status quo. Lidar com isso não é simples, mas é papel da liderança considerar a estrutura organizacional, os sistemas de avaliação e compensação, e outros fatores que podem influenciar a forma como gestores e equipes veem as mudanças. O fator humano é chave e necessita da participação de gestores e equipes que serão afetados – pessoas podem fazer uma solução moderada prosperar ou uma solução boa falhar. A iniciativa de Business Transformation deve estabelecer uma base de ganhos para os que serão impactados, em vez de focar perdas, ser motivadora e estimular pessoas a agir proativa e rapidamente. Quando os impactados pela transformação podem opinar e participar gera um senso de democracia e propriedade que impulsiona a mudança.

© José Davi Furlan, 30/07/2015

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