Antever o futuro é um desafio, mas visitar o passado é uma tarefa simples em muitas organizações, basta entrar pela porta e ver como o negócio é administrado, as técnicas e tecnologias que são utilizadas e o pensamento dos que lá trabalham. O desenho do estado futuro do negócio deve se basear na ideia que o estado atual precisa ser desafiado com ideias visionárias e revolucionárias, contudo ideias dessa natureza levam tempo para serem compreendidas. Algumas poderão não ser viáveis ou não serão aceitas na cultura da organização, no entanto podem evoluir para permitir mudanças que de outra forma não seriam consideradas – nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado. Múltiplos cenários intermediários podem ser criados para considerar oportunidades e o potencial impacto das mudanças rumo ao estado desejado.

Para impulsionar mudanças é necessário gerar uma insatisfação com o estado atual levando a organização a se descongelar e desejar abandonar a inércia. Uma forma de fazer isso é aproveitar a tendência natural do ser humano de pensar sobre o futuro. Tornar-se imortal e viver por toda a eternidade ainda não é possível, mas é possível aumentar a laço da vida quando a imaginação avança para além dos limites físicos. O cérebro humano tem a capacidade de criar e sentir realidades ainda inexistentes. Exercitar opções do futuro que representem estágios sucessivos e imergir em suas dinâmicas é uma forma de esticar a vida e se libertar da “cela orgânica constritiva e limitada vulgarmente conhecida como corpo”, conforme Miguel Nicolelis escreve emBeyond Bounderies: The New Neuroscience of Connecting Brains with Machines and How It Will Change Our Lives. A habilidade de se projetar no futuro e olhar para a posição presente a partir do novo ponto de vista é o que Daniel Burrus denominafutureview. Significa libertar-se das restrições físicas e avançar no tempo buscando experimentar novas possibilidades. Em seguida, propor meios para materializá-la no modo de vida presente. Essa visão do futuro direciona escolhas e comportamentos que produzem resultados e moldam a vida. As pessoas se tornam aquilo que pensam, então para conhecer no que elas estão se tornando, basta saber o que estão pensando.

Visualizar como uma dada realidade poderia existir daqui a vários anos e vivê-la mentalmente cria uma dimensão estendida do tempo tal como um viajante sendo transportado para uma época futura. Pode ser inspirado por uma ideia, mas assim que ganha impulso deixa de ser uma abstração e se torna palpável. O problema surge quando a pessoa regressa para a realidade atual após passar um tempo imerso em novas possibilidades e perceber o atraso das estruturas mentais vigentes, sendo obrigado a conviver com elas. Se isso é feito de forma individual o indivíduo se isola do convívio social, pois a cultura existente irá rejeitá-lo – profetas estão normalmente condenados à solidão. Mas se feito de forma coletiva, a cultura corrente passa a sofrer questionamento e a convivência com o modo ultrapassado se torna um constrangimento. Quanto mais pessoas se engajarem na questão, maior será a criatividade, inovação e compartilhamento de visão de mundo, e mais rapidamente se moverão juntas para o estado futuro. É uma resposta à pergunta “o que queremos ser?” proporcionando foco e energia para uma jornada de aprendizado por meio de um objetivo compartilhado que estimule compromisso e envolvimento em vez de mera aceitação.

O desenho do estado futuro não é para solucionar problemas do dia a dia ou atender uma lista de desejos, mas impactar estratégias e alinhar o negócio com tendências de mercado, da sociedade e dos clientes. Nesse momento, é papel da liderança agir como um farol que ilumine o caminho estabelecendo uma visão motivadora e imprimindo o ritmo necessário para criar o momento da mudança.

© José Davi Furlan, 23/07/2015