A estratégia mais comum para evitar o contato com uma realidade inconveniente é a negação. As pessoas preenchem o tempo com problemas urgentes desviando o foco daquilo que realmente importa – ficam ocupadas em rearranjar as cadeiras no convés do Titanic focando pendências e esquecendo tendências.

De 2000 a 2013, a RadioShack perdeu 98% de seu valor de mercado. O formato das lojas, o mix de produtos e a presença física perderam conexão com o que os clientes queriam. As lojas apresentam visual antiquado e ultrapassado o que é um contrassenso considerando o dinamismo dos produtos eletroeletrônicos que vende. A sensação que se tem ao entrar em uma loja é voltar à década de 1990. Os vendedores parecem mais interessados em intimidar os clientes do que ajudá-los, perguntam especificações técnicas que a maioria desconhece. E as vendas online também não se saem bem; outros concorrentes de peso, incluindo Amazon, possuem mais competência para operar no espaço virtual. No primeiro trimestre de 2012, a agência de classificação de risco Moody’s reduziu a classificação da RadioShack para “lixo”. Em julho de 2013 o preço das ações caiu assombrosamente e em fevereiro de 2015 entrou em concordata após trinta e três meses consecutivos de perdas.

Organizações têm aprendido a contornar problemas, racionalizar custos, reduzir desperdícios e aumentar rentabilidade. Contudo, para prosperar no cenário de hipermudança e mercados instáveis do século 21 terão de antecipar o futuro. Parece impossível, mas não é. Muito da discussão atual tem girado em torno de questões cotidianas, como se na iminência de um tsunami o maior problema fosse a cor do traje de banho que se deveria usar na praia. As pessoas perdem tempo e energia comjunk ideas e as empresas estão mais preocupadas com o fim do mês do que com o fim da década.

Analisando as tendências firmes que se confirmam a cada dia, pode-se prever rupturas e identificar oportunidades antes que aconteçam. Certezas levam à confiança para agir e avançar, incertezas apenas retardam ações e reagir pode ser tarde demais. É preciso ser pré-ativo e não somente proativo, entendendo que é necessário pensar em transformação do negócio antes que seja forçado a isso. Enquanto ser proativo refere-se à tomada de medidas para solucionar problemas atuais antes que aumentem, pré-ativo é solucionar problemas futuros antes que ocorram. A organização tem de ser a primeira a considerar seus produtos e serviços ultrapassados e ser capaz de dar giros de 180º graus não quando crises se instalam, mas antes delas. Terá de oferecer aos clientes experiências que eles não sabem que precisam até experimentarem.

Em tempos de mudança exponencial é necessário que gestores invistam tempo pensando sobre as oportunidades que o futuro visível apresenta. Significa deixar de lado por um instante a busca por solução de problemas do dia a dia para antecipar soluções para necessidades e problemas futuros. Quais são as tendências firmes para os próximos anos? Que necessidades as pessoas terão e que problemas irão enfrentar? Que transformações o ramo de negócio irá experimentar com a evolução tecnológica? Quais entrantes potenciais poderão causar ruptura no negócio? Qual será o futuro ideal e o que pode ser feito para antecipá-lo? Uma forma de evitar os problemas de amanhã é não deixar que aconteçam e quando o futuro não é direcionado pode se materializar em algo indesejado.

© José Davi Furlan

20/07/2015